A maternidade é um sonho para muitas mulheres, mas sabemos que alguns contextos de vida podem atrasar esse projeto. Entre trabalho, estudos e busca por um parceiro, o momento ideal vai ficando cada vez mais distante. É aí que o congelamento de óvulos mostra-se uma opção prática para preservar a fertilidade e manter acesa a esperança de engravidar no futuro.
Para entender melhor como esse processo funciona e esclarecer todas as dúvidas, conversamos com o Dr. Antonio Carlos Costa Franco, especialista em Reprodução Humana. Confira!
Para que serve o congelamento de óvulos?
O congelamento de óvulos é uma estratégia que visa preservar a fertilidade feminina ao captar e armazenar os óvulos em um momento em que sua qualidade e quantidade são mais favoráveis.
Segundo o Dr. Franco, a biologia impõe limites à mulher, que nasce com um número finito de óvulos que naturalmente declina com o passar dos anos.
“A técnica foi inicialmente desenvolvida para mulheres submetidas a tratamentos oncológicos e evoluiu para atender também aquelas que desejam postergar a maternidade sem comprometer as chances de uma gravidez futura”, explica o especialista.
Quero congelar meus óvulos: por onde começar?
O primeiro passo é buscar uma consulta com um especialista em reprodução humana ou com um ginecologista de confiança. Nesta consulta, serão solicitados exames que avaliam a reserva ovariana, como o exame do hormônio antimulleriano, e discutidas as expectativas, os riscos e benefícios do procedimento.
Além disso, é importante pesquisar e escolher uma clínica especializada, que siga os protocolos adequados para a preservação da fertilidade.
Qual é a idade máxima indicada para o congelamento de óvulos?
Segundo o Dr. Franco, o melhor período para realizar o congelamento de óvulos é antes dos 37 anos no máximo. A Tabela de Fertilidade por Idade mostra que, com o avanço da idade, tanto a quantidade quanto a qualidade dos óvulos diminuem significativamente.
Posso congelar meus óvulos com 40 anos?
Embora o procedimento seja possível após os 40 anos, as chances de sucesso são menores.
“Mulheres com 40 anos ou mais têm chances reduzidas tanto em número quanto na qualidade dos óvulos.” Por isso, o ideal é realizar o congelamento até os 36 ou 37 anos, garantindo que os óvulos apresentem uma carga genética mais robusta”, explica o médico.
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O que caracteriza um óvulo de qualidade?
Um óvulo de qualidade possui características fundamentais para uma fertilização bem-sucedida e um desenvolvimento embrionário saudável. Entre os principais atributos, destacam-se:
- Integridade cromossômica: óvulos com a correta quantidade e estrutura dos cromossomos, reduzindo riscos de anomalias genéticas e trissomias, como a Síndrome de Down.
- Maturidade: óvulos plenamente desenvolvidos, que demonstram capacidade para serem fertilizados e se dividirem adequadamente.
- Vigor celular: boa qualidade do citoplasma, que contém os nutrientes e organelas necessários para sustentar as primeiras fases do desenvolvimento embrionário.
- Resposta à estimulação: durante os ciclos de hiperestimulação ovariana, óvulos de qualidade tendem a responder melhor à medicação, permitindo a captação de um número adequado de óvulos viáveis para o congelamento.
Assim, quanto mais avançada a idade, maiores os desafios para obter óvulos com as características ideais.
Como funciona o congelamento de óvulos?
O procedimento começa com a hiperestimulação ovariana, na qual a paciente recebe hormônios sintéticos para estimular a produção de vários folículos. Durante esse período, são realizados ultrassons e exames para monitorar o desenvolvimento dos óvulos.
Após aproximadamente 10 a 14 dias de estimulação, é feita a coleta dos óvulos, que ocorre em ambiente cirúrgico com sedação – um processo rápido, que dura cerca de 10 minutos, segundo o Dr. Franco. No laboratório, os óvulos são avaliados e, se estiverem maduros, passam pelo processo de criopreservação.
O procedimento de coleta de óvulos dói?
De acordo com o Dr. Franco, o procedimento é realizado com sedação e não exige anestesia geral, o que minimiza o desconforto. A coleta é rápida e, na maioria dos casos, a paciente pode retomar suas atividades normais logo após o procedimento.
Como os óvulos são preservados?
Após a coleta, os óvulos são rapidamente encaminhados ao laboratório, onde são avaliados e submetidos à criopreservação. Esse processo consiste em resfriar os óvulos a temperaturas inferiores a -192ºC, utilizando nitrogênio líquido, o que impede qualquer degradação celular.
Por quanto tempo os óvulos podem ficar congelados?
Os óvulos podem ser armazenados por um período indeterminado, desde que a manutenção seja feita de forma adequada. Há relatos de utilização bem-sucedida após mais de uma década de armazenamento.
Congelamento de óvulos tem efeitos colaterais?
Como qualquer procedimento médico, o congelamento de óvulos envolve alguns riscos. Entre os principais efeitos colaterais, podemos destacar:
Reações adversas aos hormônios: os hormônios utilizados na estimulação ovariana podem causar sintomas como inchaço, desconforto abdominal, sensibilidade mamária, alterações de humor e, em alguns casos, náuseas ou dores de cabeça. Essas reações são geralmente esperadas e se resolvem rapidamente após o término do tratamento.
Síndrome de Hiperestimulação Ovariana (SHO): essa síndrome ocorre quando os ovários respondem de forma exagerada aos hormônios administrados. Os sintomas podem incluir um aumento acentuado do volume dos ovários, inchaço abdominal, dores intensas, vômitos e, em casos mais raros, dificuldade respiratória e desequilíbrios eletrolíticos.
Desconforto pélvico e inchaço: além das reações aos hormônios, é comum que a paciente sinta algum desconforto pélvico e inchaço, que tendem a ser temporários e se resolvem com cuidados simples e repouso.
O Dr. Franco reforça que, apesar desses riscos, os efeitos colaterais são geralmente leves e de curta duração.
“Todos são monitorados de perto durante o tratamento e gerenciados com segurança”, explica.
Quanto custa congelar óvulos?
O custo total do congelamento de óvulos é composto por três partes principais:
- Taxa da clínica: engloba todo o procedimento, desde a hiperestimulação ovariana, coleta dos óvulos e o processo laboratorial de criopreservação. Fica em torno de 12.000 a 15.000 reais, dependendo da clínica.
- Medicação para estimulação ovariana: geralmente representa uma parte significativa do investimento, podendo variar entre 4.000 e 5.000 reais, ou até mais, dependendo do protocolo adotado.
- Manutenção: após o procedimento, há uma taxa mensal (em torno de 80 a 100 reais) para a manutenção dos óvulos em nitrogênio líquido.
Plano de saúde cobre congelamento de óvulos?
Em geral, os planos de saúde não incluem o congelamento de óvulos na cobertura, pois o procedimento não é considerado um tratamento emergencial. Cada operadora pode ter políticas diferentes, mas, na maioria das vezes, o custo precisa ser arcado de forma particular.
É possível fazer o congelamento de óvulos pelo SUS?
No Sistema Único de Saúde (SUS), o congelamento de óvulos não é amplamente oferecido para a preservação social da fertilidade. O procedimento pode ser disponibilizado em casos específicos, como a oncopreservação – quando a mulher necessita preservar seus óvulos antes de iniciar tratamentos contra o câncer.
Decidi usar os óvulos congelados: Como devo proceder?
Quando chega o momento de utilizar os óvulos congelados, o procedimento passa pela realização de uma fertilização in vitro (FIV). Nesse processo, os óvulos são descongelados, fertilizados em laboratório com o sêmen do parceiro ou de um doador, e os embriões resultantes são transferidos para o útero. É essencial discutir essa decisão com um especialista, que poderá orientar sobre o momento ideal e os cuidados necessários.
O Dr. Franco ressalta que é importante considerar os riscos específicos de uma tentativa de implantação e de uma gestação após os 35 anos.
“A fertilização in vitro é uma ajuda que a gente dá, mas é preciso ter consciência dos desafios de uma gestação em idade avançada”, avalia.
Entre os principais desafios, destacam-se:
Dificuldades de implantação do embrião: em mulheres de idade mais avançada, o endométrio (revestimento do útero) pode não ser tão receptivo, o que pode diminuir a taxa de implantação dos embriões. Isso significa que, mesmo com embriões de boa qualidade, a chance de que eles se fixem adequadamente no útero pode ser reduzida.
Complicações durante a gestação: gestar em idade avançada está associado a um maior risco de complicações, tais como hipertensão e diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino e parto prematuro, bem como maior necessidade de cesariana.
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