Falta de ar, inchaço e fadiga são sintomas muito comuns na reta final da gravidez e não costumam indicar algo grave. Mas, dependendo de sua intensidade e se associados a outros indícios, eles acendem um alerta para que se investigue a possibilidade de uma doença rara e pouco conhecida: a miocardiopatia periparto.
Conversamos com a Ginecologista e Obstetra Anne Caroline dos Santos Andrade para entender o que é a miocardiopatia periparto, qual é a sua causa e como ela é tratada. Além disso, trazemos o depoimento de Bruna Silva, leitora do site Mulher e Gestação, que convive com a doença há seis anos. Confira a seguir.
O que é miocardiopatia periparto?
A miocardiopatia periparto é uma doença do coração sem causa conhecida que surge na vida da mulher em um período próximo ao parto — entre o último trimestre de gestação até seis meses pós-parto. Ela se caracteriza por aparecer em mulheres saudáveis, ou seja, sem quadro de doenças cardíacas pré-existentes.
A doença prejudica o bombeamento do sangue do coração para o organismo, o que pode levar à insuficiência cardíaca, arritmia e eventos embólicos. Sendo assim, sua taxa de mortalidade é alta, variando de 30% a 60% nas fases agudas e subagudas.
Segundo a doutora Anne, “para se caracterizar como miocardiopatia periparto, deve-se instalar um quadro de insuficiência cardíaca congestiva e dilatação ventricular esquerda entre o último trimestre da gestação até o sexto mês pós-parto, sendo que a mulher não pode ter diagnóstico de cardiopatias prévias”, explica.
O que causa a miocardiopatia periparto?
Segundo a médica, a causa é incerta. “Supõe-se que pode ser de origem viral, autoimune, humoral ou até mesmo nutricional devido à falta de selênio. Mas como em outras doenças, a causa deve ser multifatorial”, diz.
Algumas mulheres estão mais predispostas a apresentar a doença, que se torna mais comum em pacientes que:
– desenvolveram pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou hipertensão gestacional;
– têm mais de 35 anos;
– tiveram mais de três partos;
– estejam em uma gravidez de gêmeos;
– são negras (há uma maior incidência neste grupo);
– fizeram uso de tocolítico (medicamento usado para inibir o parto prematuro).
Sintomas da miocardiopatia periparto
“Os sintomas são os de uma insuficiência cardíaca clássica”, conta a médica. Os mais comuns são:
– falta de ar;
– despertar com falta de ar;
– fadiga;
– intolerância ao exercício;
– inchaço nos membros inferiores.
Outros sintomas menos frequentes são:
– tosse noturna;
– ganho ou perda de peso;
– dor abdominal;
– noctúria (vontade de fazer xixi muitas vezes durante a noite);
– diminuição da produção de urina.
Como é o tratamento da miocardiopatia periparto?
Após confirmado o diagnóstico a partir do histórico da paciente e de um ecocardiograma, o tratamento é o mesmo da insuficiência cardíaca – porém com medicamentos mais adequados para a gestação.
“Devemos pensar também em terapia anticoagulante antes e após o parto enquanto a paciente permanecer descompensada, devido à alta incidência de tromboembolismo”, indica a Ginecologista.
Além disso, a prática de exercícios físicos contribui para o tratamento – sempre com acompanhamento médico. “Ela melhora o condicionamento físico e reduz a mortalidade”, explica.
Miocardiopatia periparto tem cura?
De acordo com a médica, o que se analisa é o grau de sequelas em cada paciente.
“Até 44% das pacientes permanecem com a função ventricular comprometida. Em uma nova gravidez, elas possuem risco maior de prematuridade e abortamento”, alerta.
Além disso, mesmo em mulheres que ficaram sem sequelas, a taxa de recorrência pode chegar até 21% em uma nova gravidez. Por isso, ela enfatiza: “o planejamento familiar é fundamental para essas mulheres!”.
Como a miocardiopatia periparto afetou meu dia a dia?
Conheça o caso de Bruna Silva, leitora do portal Mulher e Gestação e seguidora das redes sociais de Regenesis, que convive há seis anos com a doença e compartilha sua experiência a seguir!
“Sou a Bruna, tenho 32 anos e sou de Belo Horizonte. Fiquei grávida com 26 anos. Uma gravidez tranquila, muito planejada e desejada!
Com 6 meses de gravidez, eu comecei a ficar muito inchada. Eu sempre relatava ao médico, porém ele relacionava com a gravidez. Com 39 semanas eu cheguei à maternidade com pressão alta de 16×10. Eu tive pré-eclâmpsia, então realizaram uma cesárea e minha filha nasceu saudável.
Após o parto, o inchaço não sumia e comecei a ter falta de ar, palpitações, tosse persistente, muito cansaço físico com pequenos esforços – até para conversar era difícil, dores no peito e nas costas em direção ao coração. E a pressão arterial só subia.
Resolvi procurar um cardiologista e, após um ecocardiograma, veio o diagnóstico de miocardiopatia periparto, com fração de ejeção de 47%. Receber o diagnóstico foi uma das coisas mais difíceis, porque eles consideram uma doença sem cura.
Iniciamos o tratamento com medicamentos. Seis meses após o diagnóstico, meu coração voltou ao normal, porém me tornei cardíaca após o parto. Faço acompanhamento anual com o cardiologista e tomo remédio para a pressão e o coração. Hoje minha fração de ejeção é de 68%, estou recuperada e assintomática. Também sou desaconselhada a ter uma nova gestação.
Eu já sabia da existência dessa doença! Sou o segundo caso da minha família. Minha mãe também teve o mesmo diagnóstico que eu antes do meu caso. Eu sempre relatava ao médico o que houve com minha mãe, porém ele achava impossível acontecer comigo também e nunca havia solicitado um exame de rastreio para cardiopatias.
Por essa experiência tão pessoal, prometi para mim mesma que vou usar o fôlego de vida que Deus me devolveu para anunciar a existência dessa doença! Mesmo que seja somente uma vida salva, eu sei que valeu a pena.”
Por não ser uma doença comum, muitas grávidas nunca ouviram falar da miocardiopatia periparto. Divulgar este conteúdo pode ajudar a salvar a vida de muitas mulheres. Compartilhe!
Boa tarde, meu nome é Emanuela com 22anos a pós o parte tive essa doença, fasso tratamento ah 2anos e graças a Deus tenho uma vida normal tomando os remédios e fazendo acompanhamento.
Oi Emanuela. Sinto muito! Obrigada por compartilhar a sua experiência com a gente e que bom que está levando uma vida normal. Tudo de bom para você!