A amamentação é um momento único na vida da mãe e do bebê, mas também pode despertar muitas dúvidas que podem gerar insegurança. Para esclarecer os mitos mais comuns sobre o assunto, conversamos com a Enfermeira Obstetra e Consultora de Amamentação Veronica Pires.
Confira a seguir as principais orientações da especialista.
MITO #1: Existe leite materno fraco.
“Não existe leite materno fraco. O que pode acontecer é uma produção de leite baixa”, alerta Veronica.
O leite materno tem um aspecto naturalmente mais líquido ou “aguado”, mas isso não significa que seja fraco. Pelo contrário, ele contém todos os nutrientes essenciais que o bebê precisa para seu desenvolvimento completo até os seis meses de vida e é perfeitamente adequado para o consumo.
Se a produção estiver baixa, a causa mais provável é a falta de estímulo adequado. Nesses casos, algumas providências podem ajudar.
- Verificar se a pega do bebê no seio está correta.
- Aumentar a ingestão de líquidos, para cerca de 3 litros por dia.
- Utilizar técnicas como o power pump (ordenha com bomba extratora) ou a ordenha manual.
MITO #2: Quanto mais tempo o bebê fica no peito, mais ele mama
Nem sempre. A amamentação não é instintiva: é um aprendizado tanto para a mãe quanto para o bebê. A pega correta é essencial para que a criança consiga extrair o leite de forma eficiente. Um bebê pode passar muito tempo no seio, mas se a pega estiver errada, ele não conseguirá se alimentar o suficiente.
Muitas vezes, o choro durante a mamada não é um sinal de recusa, mas de frustração por não conseguir mamar adequadamente. Nesses casos, o tempo no peito não fará diferença: o mais importante é corrigir a pega.
MITO #3: É preciso revezar os seios durante a amamentação
“Não há necessidade de revezar as mamas em uma mesma mamada. A recomendação é focar em um seio por vez”, explica Veronica.
Segundo ela, essa prática permite que o bebê esvazie completamente a mama e também dá um tempo para o outro seio descansar e cicatrizar, caso haja alguma lesão.
MITO #4: O bebê tem que ser amamentado a cada três horas
“A amamentação deve ocorrer em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê demonstrar fome. É importante, no entanto, não deixar que ele passe mais de três horas sem mamar, especialmente nos primeiros dias de vida, para garantir sua nutrição e hidratação adequadas”, orienta a especialista.
MITO #5: O tamanho dos seios interfere na amamentação
Veronica destaca que o tamanho dos seios não tem relação com a capacidade de produzir leite. “A produção de leite depende da quantidade de glândulas mamárias, e não do volume de gordura. Uma mulher pode ter seios grandes, mas com mais tecido adiposo do que glândulas, e não necessariamente produzir mais leite”, esclarece.
Neste vídeo, Veronica Pires faz uma introdução sobre a formação das mamas, como é produzido o leite e esclarece dúvidas sobre os tipos de mamilo e como isso impacta a amamentação.
MITO #6: A amamentação faz as mamas ficarem flácidas
“A principal causa da flacidez nas mamas não é a amamentação, mas sim a própria gestação”, explica a especialista.
Isso porque, durante a gravidez, os seios aumentam de tamanho devido ao ganho de peso e às alterações hormonais. Já na amamentação, os seios enchem e esvaziam ciclicamente e, após o desmame, o corpo para de produzir leite e as mamas diminuem.
Tudo isso pode levar à flacidez, mas a tendência é determinada principalmente pela genética e outros fatores individuais. Por isso, muitas mulheres que amamentam não percebem mudanças significativas na aparência dos seios.
Veja também: Estrias na gravidez: como evitar ou tratar?
MITO #7: O tipo de parto não interfere na amamentação
Na verdade, o tipo de parto pode, sim, influenciar o início da amamentação. Veronica explica que, em uma cesárea agendada, por exemplo, o corpo não passa pelo processo natural do trabalho de parto, que libera uma grande quantidade de hormônios, principalmente a ocitocina. “Esse “bombardeio” hormonal ajuda a acelerar e estimular a produção e a descida do leite”, destaca.
É fundamental ressaltar: mulheres que passaram por uma cesárea podem e conseguem amamentar com sucesso. O caminho pode exigir um pouco mais de paciência e estímulo no início, mas o contato pele a pele o mais rápido possível após o parto e a livre demanda (oferecer o seio sempre que o bebê demonstrar interesse) são estratégias poderosas para ativar a produção de leite. Com o apoio correto, o corpo responde, e a jornada da amamentação pode ser tão bem-sucedida quanto a de quem teve um parto vaginal.
Neste vídeo, a Dra. Fernanda Misumi, Pediatra, explica por que é importante iniciar o treinamento para amamentar ainda na maternidade.
MITO #8: Não pode comer chocolate durante a amamentação
Fique tranquila, o chocolate está liberado! A antiga ideia de que a lactante precisa seguir uma dieta extremamente restritiva já foi superada. “A mãe que amamenta pode comer de tudo, desde que com moderação. A recomendação geral é evitar o excesso de comidas muito gordurosas, frituras e refrigerantes”, orienta Veronica.
A principal preocupação deve ser a nutrição e o bem-estar, já que no pós-parto o corpo está se recuperando e precisa de nutrientes de qualidade para restabelecer seus níveis de energia, vitaminas e minerais. Uma dieta rica em frutas, vegetais, proteínas e grãos integrais contribui para a recuperação e o bem-estar geral. Além disso, a suplementação adequada, conforme orientações médicas, pode ser aliada desse processo.
MITO #9: Não é possível engravidar amamentando
Isso é um mito perigoso. “É totalmente possível engravidar durante o período de amamentação. Mesmo que a menstruação ainda não tenha retornado, a ovulação pode ocorrer. É fundamental usar um método contraceptivo para evitar uma gravidez não planejada”, destaca Veronica, lembrando que o obstetra é o profissional mais indicado para orientar sobre o método mais seguro e adequado para essa fase.
MITO #10: O leite materno não mata a sede do bebê
O leite materno é completo e possui toda a água de que o bebê precisa para se manter hidratado, não sendo necessário oferecer outros líquidos antes dos seis meses caso a alimentação do bebê seja exclusivamente o leite materno. Se um bebê apresentar sinais de desidratação, é fundamental procurar um profissional de saúde. Uma das causas pode ser uma pega incorreta, que impede o bebê de ingerir a quantidade de leite necessária, levando ao baixo peso e à desidratação. Apenas um profissional pode avaliar a necessidade de introduzir outros líquidos.
Veja também: Introdução Alimentar: Como e quando começar?
Entender os mitos é um passo fundamental para uma amamentação mais tranquila. O próximo é se preparar para a prática!
Se você quer saber mais sobre como seu corpo produz o leite, como preparar as mamas para a amamentação e como prevenir os traumas mamilares, a Veronica explicou tudo isso no vídeo a seguir. Confira!
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Amamentação [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; [citado 2025 out 5]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/amamentacao/
Almeida MLC, Silva KML, Oliveira MAM, Diniz AS, Medeiros SL, Dantas VCPO. Mitos e crenças que envolvem o aleitamento materno. Cien Saude Colet [Internet]. 2011 [citado 2025 out 5];16(5):2461-2468. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/Trz3GfpjZvBfGT3BfFygs4v/?lang=pt









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