O puerpério é um período intenso: o corpo está se reorganizando, o sono muda completamente, a rotina de casa ganha um novo ritmo e o foco passa a ser quase todo no bebê. Aos poucos, a vida sexual do casal tende a ser retomada, ao mesmo tempo que a mulher ainda está se adaptando às mudanças físicas, emocionais e hormonais dessa fase.
Nesse contexto, é muito comum que surjam dúvidas sobre fertilidade e prevenção de uma nova gravidez no pós-parto. Para esclarecer as principais questões sobre o tema, conversamos com o Dr. Felipe Nakatani, Ginecologista e Obstetra.
É possível engravidar no “resguardo”?
De acordo com o Dr. Felipe, as chances são mínimas. “Nos primeiros 42 dias, o organismo está em plena involução uterina e, em geral, não há ovulação por causa do bloqueio menstrual fisiológico. Essa combinação, somada à amamentação, dificulta bastante uma nova gravidez nesse período”, explica.
Mesmo assim, é importante entender que esse cenário vai mudando à medida que o tempo passa. O corpo começa a retomar sua função hormonal habitual e a ovulação pode voltar antes mesmo de a menstruação aparecer.
Qual é a chance de engravidar no pós-parto?
A resposta depende principalmente da amamentação. “Nas mulheres que não estão amamentando, a ovulação pode voltar após cerca de 40 dias do nascimento. Já em quem está em amamentação exclusiva, esse retorno costuma variar entre 8 e 12 semanas”, explica o médico.
O ponto-chave é que a primeira ovulação pode acontecer antes da primeira menstruação. Ou seja: é possível engravidar sem nunca ter visto o ciclo “voltar ao normal”. Por isso, o médico reforça a importância da consulta de revisão, geralmente por volta de seis semanas após o nascimento, para conversar sobre planejamento reprodutivo e definir um método de proteção adequado para essa fase.
“Não espere ‘descer a menstruação’ para definir seu método contraceptivo. O ginecologista e obstetra é seu aliado. Procure-o para, juntos, definirem a melhor estratégia contraceptiva para sua rotina e seu momento de vida”, alerta.
Engravidar amamentando: mito ou realidade?
Outra crença muito comum é a de que quem amamenta não engravida. O Dr. Felipe explica que existe, sim, um efeito contraceptivo ligado à lactação, conhecido como método LAM (Lactação e Amenorreia), mas ele só funciona bem quando alguns critérios são rigorosamente seguidos.
“Para que o LAM tenha uma eficácia próxima de 98%, é preciso amamentação exclusiva em livre demanda, inclusive à noite; bebê com menos de 6 meses; e ausência de menstruação. Se qualquer um desses pontos não for cumprido de forma integral, pode haver ovulação e uma gestação não planejada”, esclarece.
Na prática, conforme o bebê cresce, passa a dormir mais, inicia alimentação complementar ou diminui a frequência das mamadas, esse efeito protetor cai. Por isso, confiar apenas na amamentação, sem um outro método, aumenta o risco de surpresa.
Métodos contraceptivos pós-parto: quais as opções e quando começar?
O melhor momento para começar um anticoncepcional no pós-parto varia conforme o tipo de método escolhido, as condições de saúde da mulher e a amamentação, sempre com acompanhamento médico. “O ideal é que a paciente saia da maternidade com a orientação de retornar ao ginecologista, para que na próxima consulta seja definido o método mais adequado para ela”, explica o Dr. Felipe.
Alguns métodos contraceptivos podem ser considerados:
Métodos de longa duração (LARC): DIUs de cobre, de cobre e prata, DIU de levonorgestrel e o implante subdérmico de etonogestrel podem ser inseridos imediatamente após o nascimento, aproveitando essa janela do pós-parto.
Pílulas só de progesterona: as pílulas orais de progesterona geralmente são iniciadas entre 4 e 6 semanas após o parto. Podem ser usadas na amamentação com segurança, não aumentam o risco de trombose e ainda trazem benefícios extracontraceptivos.
Métodos combinados (estrogênio + progesterona): se forem escolhidos anticoncepcionais combinados, a paciente não pode estar amamentando e é necessário aguardar pelo menos 6 semanas de puerpério para reduzir o risco de trombose.
Como escolher o melhor método no pós-parto?
Segundo o Dr. Felipe, a escolha deve ser individualizada. “Não existe um método perfeito para todas. A avaliação deve levar em conta a saúde de cada paciente, para orientar de forma personalizada a melhor opção para aquela fase.”
Em termos de eficácia, o especialista destaca algumas opções. “Se pensarmos em eficácia, vale conversar sobre DIUs hormonais e não hormonais e sobre o implante de etonogestrel. Mas pílulas só de progesterona, injetáveis mensais ou trimestrais e os métodos combinados orais e transdérmicos podem se encaixar melhor na realidade de algumas pacientes”, avalia.
O mais importante é que a mulher se sinta segura, informada e confortável com a escolha. A decisão deve ser tomada em conjunto com o ginecologista, avaliando histórico, rotina e planos futuros de gestação.
Anticoncepcional no pós-parto para quem amamenta
Durante a amamentação, nem todas as opções são recomendadas. “Métodos combinados com estrogênio devem ser evitados. Para quem está amamentando, priorizamos métodos só de progesterona ou de longa duração que sejam compatíveis com essa fase”, orienta o especialista.
Anticoncepcional no pós-parto para quem NÃO amamenta
Nesse caso, o leque é mais amplo. “Para quem não está amamentando, todos os métodos podem ser discutidos: DIU, implante, pílulas de progesterona, pílulas combinadas, adesivos e injetáveis, sempre respeitando as condições de saúde da paciente”, explica o Dr. Felipe.
Por que não engravidar logo depois de ter um bebê?
A Organização Mundial da Saúde e as sociedades de Ginecologia e Obstetrícia recomendam um intervalo de pelo menos 18 meses entre o fim de uma gestação e o início de outra. Esse cuidado ajuda a reduzir:
- chance de parto prematuro;
- restrição de crescimento do bebê;
- anemia materna;
- maior risco de síndromes hipertensivas, como pré-eclâmpsia.
Ou seja, planejar o tempo entre as gestações é uma forma de proteção tanto para a saúde da mãe quanto do bebê que virá depois.
Além de entender as possibilidades de gravidez no pós-parto e os métodos contraceptivos, cuidar do descanso também é fundamental para o bem-estar da mãe e do bebê. Se você quer se organizar melhor para essa nova rotina, vale a pena conferir este conteúdo:
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