Durante a gestação, é natural que qualquer sintoma gere a dúvida: quais remédios as grávidas não podem tomar? A questão é delicada, pois muitos fármacos atravessam a barreira placentária e podem impactar o desenvolvimento fetal, sobretudo nas primeiras semanas, quando se forma o coração, o sistema nervoso e os órgãos principais.
Para tirar essas dúvidas, conversamos com a Dra. Cynthia Falbo, Ginecologista e Obstetra. Neste artigo, ela explica quais medicamentos devem ser evitados na gravidez, em quais situações buscar alternativas e como manter o bem-estar materno sem comprometer a saúde do bebê.
Quais são os remédios contraindicados na gravidez e por quê?
Segundo a Dra. Cynthia, diversos fármacos estão contraindicados porque podem atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento do bebê. Alguns são de uso cotidiano para tratar sintomas leves, mas na gravidez não têm segurança garantida:
- antigripais;
- anti-inflamatórios;
- relaxantes musculares;
- descongestionantes nasais;
- antifúngicos;
- alguns anti-hipertensivos.
Muitos desses medicamentos podem provocar efeitos teratogênicos, ou seja, interferem na formação dos órgãos do embrião e podem levar a malformações congênitas ou causar disfunções fetais, como restrição de crescimento, alterações cardíacas e risco aumentado de aborto espontâneo.
“Durante a gestação e a amamentação, especialmente no primeiro trimestre, evite qualquer medicamento que não seja absolutamente necessário. A automedicação é contraindicada sempre, mas especialmente durante o ciclo gravídico-puerperal”, orienta a médica.
Pode tomar dipirona na gravidez?
“A dipirona não é uma droga indicada, já que não existem muitos estudos relativos à segurança na gestação. Costuma ser prescrito em situações de extrema necessidade e em baixas doses, pois é sabido que o uso frequente pode causar alterações cardíacas e renais no feto”, explica a Dra. Cynthia.
Pode tomar paracetamol na gravidez?
Segundo a obstetra, o paracetamol costuma ser mais viável do que a dipirona diante da necessidade de um analgésico leve ou antitérmico, mas é melhor evitar. “Embora os estudos ainda sejam inconclusivos, um alerta recente mostrou possível associação entre o uso prolongado desta substância e alterações neurológicas como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA (Transtorno do Espectro Autista)”, alerta.
Pode tomar antibiótico na gravidez?
Existem muitos antibióticos comprovadamente seguros na gestação e outros que são evitados durante todo o período ou em algumas fases. Por isso, qualquer um deles só deve ser tomado com a devida prescrição médica.
Remédios para enjoo na gravidez: são permitidos?
Segundo a Dra. Cynthia, existem vários medicamentos permitidos, como dimenidrato, metoclopramida e meclizina, uma boa notícia para gestantes que enfrentam enjoos com frequência. “Se temos drogas seguras, não há por que tolerar um mal-estar que muitas vezes compromete a qualidade de vida da grávida”, esclarece.
Com relação à ondansetrona, ela afirma que, embora alguns estudos tenham levantado a hipótese de que seu uso pudesse aumentar o risco de malformações fetais, a incidência de anomalias observada nesses casos se mostrou comparável à da população em geral. Por esse motivo, sociedades médicas endossam seu uso, desde que:
- seja reservado para gestantes com náuseas e vômitos refratários a outras terapias;
- seja prescrito com cautela e sempre sob supervisão obstétrica.
Pode tomar remédio para azia na gravidez?
É muito comum sentir azia e queimação no estômago durante a gravidez, especialmente a partir do segundo trimestre. Para amenizar esse desconforto sem prejudicar o bebê, veja as recomendações da Dra. Cynthia:
- Antiácidos à base de magnésio e alumínio são considerados seguros e podem ser usados para alívio rápido.
- Antiácidos à base de cálcio, como o hidróxido de cálcio, devem ser administrados com cautela.
- Sal de fruta deve ser evitado: seu alto teor de sódio pode aumentar a retenção de líquidos, elevar a pressão arterial e agravar o inchaço.
- Inibidores da bomba de prótons (IBPs), como o omeprazol, são classificados como categoria B na gestação. Ou seja, têm uso liberado nos casos mais graves e resistentes a outras terapias, sempre sob supervisão médica e na dose mínima eficaz.
E os chás medicinais, estão liberados na gravidez?
Embora naturais, os chás também podem trazer riscos na gravidez. A Dra. Cynthia orienta sobre como usá-los de forma segura:
Chás geralmente liberados na gestação
- Camomila e erva-cidreira: têm efeito calmante.
- Erva-doce: auxilia na digestão e alivia prisão de ventre.
- Hortelã: ajuda em desconfortos gástricos.
- Gengibre: reduz náuseas e vômitos.
- Misturas com melissa, funcho, erva-doce, camomila e feno-grego podem estimular a produção de leite durante a amamentação.
Chás que devem ser evitados
- Ricos em cafeína, como chá preto, verde e branco podem aumentar irritabilidade, acelerar o coração e prejudicar o sono.
- Boldo, sene, canela, cravo, arruda e hibisco, pois estão associadas a náuseas, vômitos, perda fetal e parto prematuro.
Antes de introduzir qualquer chá na sua rotina, confirme com seu obstetra para garantir a segurança de mãe e bebê.
Medicamentos controlados: como usar na gravidez?
Sabemos como pode ser desafiador lidar com a depressão, ansiedade, epilepsia ou dor crônica durante a gestação, mas essas condições exigem escolhas cuidadosas em conjunto com sua equipe de saúde.
- Ansiolíticos: alguns são permitidos sob supervisão médica.
- Opioides: são totalmente contraindicados.
- Anfetaminas: totalmente proibidas.
- Antipsicóticos: seu uso deve ser avaliado com extremo rigor pela equipe de cuidados, pesando riscos e benefícios maternos e fetais quando necessário.
- Antidepressivos: quando necessário, existem drogas seguras na gestação e puerpério mediante uso supervisionado da equipe.
- Anticonvulsivantes: existem drogas seguras como lamotrigina e levetiracetam, enquanto outros medicamentos são altamente teratogênicos.
Para quem faz uso desses medicamentos e planeja a gravidez, é fundamental antecipar esse diálogo com sua equipe de saúde para ajustar o tratamento, buscando equilíbrio entre o bem-estar materno e a segurança fetal.
“Caso seja uma gestação inesperada, procure seu obstetra o quanto antes para que seja feita a troca para medicamentos considerados seguros”, orienta a obstetra.
A importância do planejamento familiar para mulheres com doenças crônicas
O planejamento familiar deve ser pauta prioritária em consultas médicas, especialmente em mulheres com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, epilepsia, depressão ou ansiedade.
“Nesses casos, a gestação só pode ser programada após liberação do médico que monitora a comorbidade. Um acompanhamento interdisciplinar, com obstetra, cardiologista, endocrinologista, psiquiatra, entre outras especialidades, reforça a segurança tanto da mãe quanto do bebê”, ressalta a Dra. Cynthia.
Ela acrescenta que investir em ajustes no estilo de vida, como alimentação equilibrada e atividade física, além de terapias alternativas, como acupuntura e psicoterapia, pode contribuir para a redução do uso de medicamentos.
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Para consultar a segurança de fármacos na gravidez e no puerpério, você pode recorrer ao portal e-lactancia.org, uma ferramenta confiável que avalia o risco de cada medicamento e orienta, de forma clara, sobre seu uso durante a gestação.
Compartilhe este artigo com amigas grávidas para que todas tenham informações confiáveis!
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